sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Mais de 60% das pesquisas académicas para novos medicamentos estão incorrectas

Dois terços das pesquisas laboratoriais realizadas pela gigante farmacêutica Bayer HealthCare para validar trabalhos académicos que apontam alvos promissores para novos medicamentos são interrompidas, porque os resultados obtidos na indústria não correspondem às informações nos artigos científicos, avança o portal ISaúde.O levantamento foi realizado por um trio de investigadores da própria Bayer e publicado no Nature Reviews Drug Discovery, do mesmo grupo que edita a revista Nature."Projectos de validação iniciados na nossa companhia, com base em dados publicados muito interessantes, frequentemente resultam em desilusão quando dados fundamentais não podem ser reproduzidos", escreve o grupo da Bayer, liderado por Khusru Asadullah, vice-presidente da Bayer HealthCare na Alemanha e diretor de descoberta de alvos.O levantamento feito na farmacêutica, que não passou por revisão pelos pares, valeu-se de questionários enviados a todos os cientistas da companhia envolvidos no trabalho de descoberta de alvos.Foram obtidas respostas de 23 líderes de equipa, com dados de 67 projectos, 47 deles do campo da oncologia. A análise mostrou que em apenas cerca de 20% a 25% dos projectos os dados das publicações académicas foram completamente confirmados nos laboratórios da companhia.Em quase dois terços dos trabalhos, as discrepâncias entre o publicado e o observado pela farmacêutica ou tornaram necessária uma "considerável prorrogação" do processo de validação ou, na maioria dos casos, levaram ao encerramento do projeto. "A evidência gerada a favor da hipótese foi insuficiente para justificar novos investimentos nesses projectos", diz o levantamento. Transferência de modelos Numa análise mais detalhada dos dados, a equipa da Bayer determinou que a discrepância não poderia simplesmente ser explicada como fruto de adaptações de procedimento – por exemplo, com o uso de uma linhagem de células, na experiência de confirmação, diferente da descrita no artigo académico original. De acordo com o grupo de Asadullah, "ou os resultados eram reprodutíveis e mostraram-se transferíveis para outros modelos, ou até mesmo uma reprodução 1:1 do procedimento experimental publicado revelava inconsistências" entre o resultado descrito na literatura e o obtido no laboratório. "Surpreendentemente", prosseguem os autores, "mesmo a divulgação em prestigiosas publicações, ou publicações de diversos grupos independentes, não garantia reprodutibilidade". A reprodutibilidade, dizem os cientistas da Bayer, não se mostrou correlacionada com o factor de impacto da publicação, o número de publicações a respeito do alvo em análise, e nem mesmo com o número de grupos independentes que publicara resultados a respeito.Entre os possíveis motivos para o fenómeno encontrado, os autores mencionam desde erros estatísticos cometidos pelas equipas académicas a factores como a alta pressão competitiva por publicação no mundo académico; um viés que favorece a publicação de resultados positivos e acaba escondendo os negativos; e a falta de tempo e recursos para que os árbitros envolvidos no processo de revisão pelos pares mergulhem realmente a fundo nos trabalhos submetidos.Obstáculos"É preciso estudar se de facto existem obstáculos à publicação de resultados que contradigam dados de publicações de alto impacto, ou a opinião científica actualmente estabelecida num determinado campo, o que poderia levar a literatura a apoiar uma determinada hipótese, mesmo quando existem diversos dados (não publicados) contra ela", escrevem os autores.Mesmo reconhecendo que o seu estudo deve ser lido com ressalvas – baseado, como foi, numa amostra pequena de uma só companhia – os investigadores concluem que " os dados da literatura sobre potenciais alvos para medicamentos devem ser vistos com cautela", e que estudos confirmatórios de validação mostram-se importantes antes que se realizem os grandes investimentos envolvidos nas fases subsequentes de teste, como os ensaios em animais.Leia na íntegra o artigo publicado na Nature Reviews Drug Discovery aqui, em inglês

Fonte: RCM Pharma

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