sexta-feira, 27 de julho de 2012

A Fiocruz-BA testa vacina contra a dengue




No primeiro estudo mundial de eficácia, a vacina da empresa francesa Sanofi Pasteur contra a dengue apresentou resultados positivos contra três dos quatro sorotipos do vírus. No Brasil, os testes ocorrem nas cidades de Campo Grande, Fortaleza, Goiânia, Natal e Vitória. A conclusão dos estudos de eficácia no país está prevista para 2014.
O anúncio feito na quarta-feira, 25, é resultado de pesquisas realizadas na Tailândia. O medicamento também provocou resposta imunológica contra o quarto sorotipo da dengue, mas a eficácia satisfatória só foi comprovada contra três deles.
Em nota, o laboratório informou que as análises continuam para descobrir a falta de proteção para o quarto sorotipo. Os resultados detalhados deste estudo serão publicados ainda este ano.
Os testes foram realizados em 4.002 crianças, entre 4 e 11 anos. O combate consiste em três doses, administradas a cada seis meses (0, 6 e 12 meses). Os estudos em larga escala, envolvendo 31 mil adultos e crianças, estão em andamento em dez países da Ásia e da América Latina.
“A vacina da Sanofi é a mais desenvolvida e a primeira que será avaliada. Ela está na fase 3, quando a vacina é testada em milhares de indivíduos de vários lugares. O laboratório diz que não ocorreram efeitos colaterais graves e está produzindo anticorpos. Com esses resultados, parece ser muito boa, mas é necessário cuidado”, disse a doutora em epidemiologia do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC-UFBA) Glória Teixeira.
A pesquisadora integra o grupo de 11 especialistas selecionados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para avaliação de segurança e efetividade das vacinas em processo de produção pelo mundo. No próximo dia 1º, o grupo se reúne em Genebra para discussão dos documentos elaborados pelo laboratório e posterior relatório.
Na fase 1, os testes atingem 120 pessoas, no máximo. Na segunda, atinge a quantidade de 200 a 250 indivíduos. “Após a fase 3,  pede-se o registro do produto à Vigilância Sanitária e agências de regulação”, explicou a pesquisadora. A Sanofi pretende pedir o registro entre 2014 e 2015.

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Normalmente em evidência por surtos de dengue, Salvador tem oportunidade agora de se tornar referência na solução do problema. Isso porque a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz-BA) já está testando uma vacina contra a doença em um grupo de pessoas em Pau da Lima.

Segundo o diretor da Fiocruz, Mitermayer Galvão, uma vacina que está sendo desenvolvida na instituição já entrou na fase clínica de testes, ou seja, já está sendo aplicadas em humanos para verificar a segurança e a eficácia da imunização.

“No estágio atual, estamos capacitando os técnicos que atuarão no processo e realizamos testes em um grupo específico que chega aos postos de saúde com febre”, explica Galvão.

Depois da imunização, o grupo testado tem o sangue coletado para verificação da atuação da vacina. “Já temos uma quantidade significativa de dados coletados e isso nos dá muita motivação para a apresentação de resultados”, pontua  Mitermayer.

O diretor da Fiocruz alerta, porém,  que os testes devem passar por três fases até alcançarem os padrões de excelência e segurança exigidas para esse tipo de produto e, finalmente, serem lançados no mercado. Ela não especificou em quais dos três estágios da fase clínica está a vacina que vem sendo testada. O produto, da Fiocruz  em parceria com o laboratório GlaxoSmithKline, usa vírus mortos, o que, segundo Mitermayer, amplia a segurança do uso.

Em virtude do pacto de confidencialidade nesse tipo de pesquisa, Galvão diz que ainda não poder precisar a data de lançamento da imunização, mas assegura que o Ministério da Saúde pretende usar a vacina de maneira universal para toda a população, em virtude do caráter de risco que a dengue apresenta para o país e para a Bahia, em particular, que é hoje um dos cinco estados com maior risco de epidemia. Além de Salvador, a Fiocruz também está fazendo testes em Manaus e Fortaleza.

Mais esperanças

Além da parceria Fiocruz-Glaxo, outras três experiências estão sendo desenvolvidos no país. Uma com o laboratório Sanofi-Pasteur, em parceria com universidades federais, outra pela multinacional Merck e uma última realizada pelo Instituto Butantã, de São Paulo.

Independente dos resultados e apesar da esperança, o diretor da Fiocruz alerta que neste momento é importante não descuidar dos fatores de prevenção e combate.

“A vacina anima a comunidade científica, mas ela não retira dos poderes públicos a necessidade de investir em saneamento e água potável, além de não isentar a população dos cuidados de combate dos criadouros do mosquito nas residências”, completa Mitermayer.

Contaminação
Os dados epidemiológicos da Bahia apontam que dos 417 municípios baianos, 396 (95%) possuem notificação da doença durante todo o ano. No entanto, 46 deles são prioritários para a Secretaria de Saúde do Estado (Sesab), inclusive Salvador que, desde o verão do ano passado, tem o sorotipo 4 (DEN4) circulando entre a população e em expansão.

“O estado, infelizmente, apresenta uma situação que favorece o risco de epidemia, afinal os quatro sorotipos da doença estão presentes”, pontua a coordenadora do Grupo de Trabalho Contra a Dengue da Sesab, Elisabeth França, ressaltando que a população já enfrentou, em vários momentos, as infecções causadas por um ou outro sorotipo, fato que sensibiliza ainda mais o organismo, favorecendo o aparecimento do tipo hemorrágico. “Temos, ainda, problemas estruturais graves, como municípios densamente povoados e problemas históricos de abastecimento de água e coleta de lixo”, diz.

Associado a esses fatores, ela destaca uma dificuldade na mudança da cultura das populações que acham que a doença está distante. “Já encontramos foco da doença nos locais mais inusitados, desde em copo para dentadura, geladeira, bromélias”, diz a coordenadora do Grupo de Trabalho.

Mosquito e vírus da dengue sofreram adaptações
Embora os estudos realizados  não  comprovem, a observação dos técnicos de saúde mostram que tanto o mosquito quanto o vírus mudaram seus hábitos ao longo dos anos. “A ideia de que o inseto gostava apenas de água limpa caiu por terra. Descobrimos que em superfícies com água contaminada, o Aedes encontra uma boa fonte de alimentação”, diz o pesquisador Mitermayer Galvão.

A coordenadora do Grupo de Trabalho de Combate à Dengue da Sesab, Elisabeth França,  destaca que a manifestação da doença também se modificou com o passar do tempo e algumas pessoas contaminadas deixaram, por exemplo, de apresentar febre. “A mudança no perfil da doença é preocupante porque exige readaptação ao combate e  ao tratamento”, completa Elisabeth

Fontes: A Tarde e Correio da Bahia

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