terça-feira, 9 de agosto de 2011

Medicamento para parar de fumar divide opiniões entre estudiosos, médicos e pacientes

Medicamento para parar de fumar produzido pela Pzfer

: Reprodução site da Pfzer Apesar de ser utilizado desde 2006 por pessoas de diferentes partes do mundo interessadas em deixar de fumar, não é de hoje que o medicamento Champix desperta dúvidas a respeito da sua eficácia e segurança. Depois de levantar polêmicas quanto à possibilidade de provocar distúrbios como a depressão, agora a droga é alvo de um novo estudo (publicado em 6 de julho de 2011) que mostra que sua utilização aumenta em 72% o risco de doenças cardiovasculares.
A pesquisa, feita com 8,2 mil pacientes , revelou que 1,06% do grupo que tomou o remédio teve problemas cardiovasculares, contra apenas 0,82% do grupo que ingeriu o placebo (pílula falsa) em seu lugar. Traçando um comparativo entre os dois percentuais, os estudiosos chegaram ao resultado de que o risco de desenvolver problemas cardiovasculares foi 72% maior no grupo que tomou o medicamento do que no grupo que não o tomou.
O que algumas pessoas talvez não saibam é que em 2008 um estudo publicado em Chicago, tratou sobre a mesma preocupação a cerca dos riscos cardiovasculares provocados por Champix, porém seu resultado foi justamente o oposto da pesquisa canadense (veja o resultado desse estudo na arte abaixo).
Diante das divergentes análises acerca do medicamento e do método utilizado na pesquisa canadense médicos e pacientes tem dividido opiniões pelo mundo. Para alguns profissionais da cardiologia e estudiosos do tabagismo, o resultado publicado recentemente não pode ser considerado relevante, pois o grupo estudado foi pequeno e a diferença foi muito leve entre os percentuais.
É o que defende o cardiologista e coordenador do ambulatório de tabagismo do Real Hospital Português, Marco Antonio Alves. Para Marco esse foi um estudo isolado que requer um número maior de pacientes e mais tempo de análise. "A pesquisa carece de melhor avaliação ao longo do tempo, para que aí sim se possa comprovar esse aumento dos riscos. Baseado nas evidências que eu tenho, a droga é positiva”, explica.
No hospital em que Marco trabalha a experiência com o uso do medicamento tem bons resultados registrados. Segundo ele, somente em um dos grupos de tratamento para parar de fumar entre os anos de 2007 e 2008, de 30 pacientes que tomaram o Champix, 23 largaram o cigarro de vez, o que representa um total de 76,66% do grupo.
Segundo o médico, a única droga feita no mundo especificamente para tratar o tabagismo foi a Vareniclina (princípio ativo do Champix). Antes dela, havia apenas alternativas terapêuticas, mas não drogas estudadas para tratar a doença. “Eu tenho hoje mais de 70 pacientes tratados com Champix e o que vemos é que ele é realmente eficaz, mas para quem está motivado a parar”, explica.
Por outro lado, também há cardiologistas que desconfiam de tal eficácia e preferem evitar a recomendação do uso desse remédio. O cardiologista Hilton Chaves, coordenador da clínica de hipertensão do Hospital das Clínicas de Pernambuco e PHD em cardiologia pala Universidade de São Paulo (USP), é uma dessas pessoas. Para ele, “contra fatos não há argumentos. Esse resultado é estatisticamente inaceitável. Não é que eu seja radicalmente contra o medicamento, mas é que salta aos olhos o risco que essa droga oferece. Qualquer pessoa que tenha uma boa pratica medica não pode aceitar um resultado desses”, conclui o cardiologista.
Hilton conta que nunca prescreveu o Champix para nenhum paciente, ele diz que acha o medicamento muito caro e acredita que o custo benefício não vale a pena diante dos riscos. “Acho que parar de fumar tem que ser uma decisão própria e não deve depender de medicamentos como esse”, conta.
Já entre os pacientes paira a desconfiança. Assim como os médicos, eles se dividem entre opiniões. Há os que temem a utilização do remédio e preferem evitar ministrar qualquer medicação para parar de fumar, recorrendo apenas à força de vontade, como sugerido por Hilton. Mas há também aqueles que utilizaram, aprovaram e recomendam o uso do Champix como alternativa para parar de fumar, apesar dessas especulações.
Uma dessas pacientes é a aposentada Eliane Menezes, de 61 anos. Ela fez parte de um dos grupos tratados pelo médico Marco Antônio em 2008 e confessa que se assustou ao ver estudos negativos a cerca do remédio que tomava, mas diz que continuou o tratamento e garante os efeitos benéficos da droga.
Eliane conta que fumou 40 cigarros por dia durante 40 anos e quando passou a usar o Champix perdeu completamente o prazer em fumar. “O Champix fez esse milagre. No tratamento, você faz uma espécie de escala de quantos cigarros quer fumar por dia e vai diminuindo até parar de vez. No começo eu esperava ansiosa pela hora de fumar, mas quando pegava o cigarro era como se eu não estivesse fumando nada. Apenas puxava e soltava fumaça, sem nenhum prazer”, conta Eliane, lembrando do tratamento (entenda no infográfico abaixo a forma como o medicamento age no organismo).
Apesar das opiniões divergentes, médicos, pacientes e estudiosos concordam que nenhum estudo pode ser encarado isoladamente. Sobretudo porque esses não são e nem serão os únicos estudos realizados acerca da Vareniclina.
Diante de diferentes avaliações, cabe aos profissionais de saúde avaliarem o contexto de cada paciente e definir em que casos pode ser recomendado o uso do Champix, até que se confirmem mais claramente os verdadeiros riscos da droga, a ponto de que ela seja retirada de circulação.
A DROGA - tendo como princípio ativo a Variniclina, ela é produzida pelo laboratório americano Pfzer e foi aprovada em 2006 pela agência de regulamentação de medicamentos americana FDA (Food and Drug Administration) como medicamento para deixar de fumar. Desde então também foi aprovada no Brasil, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e hoje já usada em 99 países, também sob a autorização das agências de regulação da União Europeia (EMA - European Medicines Agency) e Canadense (Health Canadá).
RESPOSTA DA PFZER – No dia 6 de julho de 2011, logo após a divulgação do estudo canadense, a Pfzer (empresa que produz o Champix) divulgou comunicado informando que se mostrava preocupada em relação à confiabilidade dos resultados do estudo e disse que a diferença de 72% reportada na análise deve ser colocada no devido contexto, pois a diferença real nas taxas de eventos cardiovasculares reportados nesta análise foi de menos que um quarto de um por cento (ou seja, 1,06 por cento com vareniclina versus 0,82 por cento com placebo). Por fim, a Pfizer prometeu realizar uma meta-análise a respeito da segurança cardiovascular de Champix.
RESPOSTA DA ANVISA – No dia 8 de julho de 2011, a Anvisa publicou um informe esclarecendo seu ponto de vista diante da pesquisa canadense. Assim como a Pfzer, a empresa ressaltou que os valores absolutos da pesquisa mostram que o aumento do risco cardíaco para pacientes usuários do Champix, em análise contextual, sugere o incremento de menos 0,25% nos pacientes que fizeram o uso do remédio, comparativamente àqueles que fizeram uso do placebo. Sendo assim, a agência conclui que até o presente momento, os estudos indicam que os benefícios do Champix superam os relacionados ao risco e garante estar monitorando todas as informações referentes ao medicamento Champix, assim como os estudos associados ao mesmo.

Fomte JC oline




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